Limitações do iPhone 3G

Postador por Tiago Damasceno

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O iPhone 3G desempenha bem as funções básicas de smartphone, e ganha pontos por incluir uma interface muito bem trabalhada e um sistema consistente de instalação de novos softwares através da AppStore. Entretanto, ele também possui uma série de limitações; algumas delas introduzidas por limitações de hardware ou por decisões técnicas e outras introduzidas intencionalmente, por pressão das operadoras ou pela preocupação da Apple em dificultar o acesso a arquivos de mídia fora do iTunes. Combinadas, elas fazem com que o iPhone 3G fique bem aquém de seu potencial, fazendo com que ele seja um aparelho bem acabado, porém capado em muitas áreas.

Uma das limitações mais graves é a falta de suporte a tethering, ou seja, a possibilidade de usar o smartphone como modem e acessar usando o notebook, um recurso básico que está disponível em praticamente todos os aparelhos atuais. Com isso, mesmo que você tenha um iPhone com um plano de dados ilimitado, vai precisar comprar um modem USB e assinar um segundo plano de dados caso pretenda navegar usando o notebook.

A decisão de capar o tethering se deve principalmente às pressões da AT&T (que é a parceira primária da Apple na distribuição do iPhone nos EUA). Entretanto, ela foi mantida nos iPhone vendidos em outras partes do mundo, incluindo o Brasil. O tethering não é um recurso muito bem visto pelas operadoras, que temem que os usuários de planos ilimitados conectem usando o notebook e consumam um volume de banda acima do esperado. Em vez de estudarem limites ou quotas de tráfego, a AT&T e a Apple optaram pela "solução final", removendo o tethering.

Assim como no caso de outros recursos originalmente não presentes no iPhone, o tethering poderia ser ativado por aplicativos de terceiros. Este é o caso do NetShare, um pequeno aplicativo desenvolvido pela Nullriver, que atuava como um proxy, permitindo compartilhar (embora de forma limitada), a conexão via bluetooth.

O problema é que a Apple decidiu exercitar sua cultura de censura, tirando abruptamente o NetShare da AppStore e deixando claro que não permitirá a distribuição de outros aplicativos similares no futuro. A frase de explicação na página da Nullriver define bem a situação:

"Aparentemente a Apple decidiu que não permitirá nenhum aplicativo de tethering na AppStore. Devido a isso, o NetShare não estará disponível na iTunes AppStore. Temos visto reports similares por parte de diversos outros desenvolvedores cujos aplicativos foram abruptamente removidos e banidos da AppStore sem terem violado nenhuma das cláusulas dos termos de serviço. Estas são más notícias para os usuários da plataforma iPhone."

Existem, também, grandes limitações com relação ao suporte a multitarefa. Embora o iPhone OS seja originalmente um sistema Unix, com suporte a multitarefa e um sistema de gerenciamento avançado de memória, a necessidade de rodá-lo em um smartphone com apenas 128 MB de memória RAM fez com que a Apple optasse por restringir seu uso, de forma a não comprometer o desempenho do sistema.

Ao chavear entre dois aplicativos, o sistema fecha o primeiro antes de abrir o segundo. Como os dados do primeiro aplicativo são salvos antes do encerramento e restaurados quando ele é aberto novamente, o sistema se comporta de forma relativamente transparente, mas a possibilidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo (como é possível no S60, ou mesmo no Windows Mobile), fica severamente limitada devido à questão do desempenho. Cada vez que você alterna entre dois aplicativos, precisa esperar 10 ou até 20 segundos até que ele seja carregado e alguns jogos chegam a ultrapassar a marca dos 60 segundos. Este é também um dos motivos do sistema não incluir suporte ao copiar e colar.

Outra limitação diz respeito ao Bluetooth. A Apple optou por incluir uma versão limitada do stack Bluetooth, que suporta apenas alguns dos profiles disponíveis. Com isso, você pode usar o Bluetooth em conjunto com headsets mono e outros periféricos, mas não está disponível o suporte à transferência de arquivos ou a headsets estéreo. Você pode perfeitamente transferir arquivos para outros aparelhos (ou para o PC) usando a rede Wi-Fi, ou enviando-os por e-mail, mas não via Bluetooth, que seria a opção mais prática em muitas situações.

A câmera do iPhone 3G também é bastante modesta para os padrões atuais, com um sensor CMOS de apenas 2 megapixels (similar aos usados em aparelhos baratos, como o Nokia 6120 Classic) e uma qualidade de imagem mediana, na melhor das hipóteses. A câmera é também limitada pela falta de flash e pela falta de suporte a gravação de vídeos.

Via de regra, qualquer câmera que é capaz de capturar imagens pode ser usada também para capturar vídeos; a diferença entre os dois modos de operação reside não no hardware, mas no software usado. Ao tirar fotos, o software utiliza um tempo de captura maior, permitindo que o sensor capture mais luz e obtenha a imagem em sua resolução máxima. A imagem resultante é então pós-processada, com filtros que reduzem o nível de ruído e calibram a curva de cores. Ao capturar vídeos, por sua vez, o software faz uma seqüência rápida de capturas em baixa qualidade, produzindo os quadros que são então combinados para formar o vídeo. Por algum motivo, a Apple optou por não adicionar o módulo de gravação, limitando a câmera às fotos estáticas.

O iPhone 3G usa uma bateria interna, cuja substituição torna necessária uma desmontagem parcial do aparelho. Encontrar baterias de reposição é uma tarefa fácil (existe uma enorme oferta de peças de reposição para o iPhone em lojas do exterior) e substituir a bateria também não é um grande problema. Entretanto, este design impede que você carregue baterias extras e as troque conforme o uso, como é comum em outros aparelhos.

Assim como no caso de outros aparelhos 3G, o iPhone consome rapidamente a carga da bateria quando você utiliza a rede de dados. Isso torna a questão da autonomia um problema sério para os heavy-users, que acabam tendo que carregar a bateria mais de uma vez ao longo do dia.

Outro ponto digno de nota é o GPS integrado. O iPhone 3G inclui um receptor GPS e uma versão nativa do Google Maps, capaz de tirar vantagem dele. As duas grandes limitações são que o Google Maps funciona apenas online, sem a opção de salvar os mapas para uso offline (como no Garmin ou no Nokia Maps) e não suporta o uso de navegação por voz, se limitando a traçar rotas estáticas entre dois pontos. Outra limitação é que a pequena antena do iPhone 3G faz com que o GPS dependa fortemente do posicionamento baseado nas antenas da operadora (o A-GPS), e seja bastante deficiente em acompanhar a movimentação enquanto você se desloca.

Mesmo a tela multitouch, que é um dos grandes atrativos do iPhone, tem também uma desvantagem, que é o fato de não permitir que você use o aparelho com apenas uma das mãos, como é possível em aparelhos com teclado e direcional. Isso é um problema para quem tem o hábito de incluir entradas na agenda e fazer outras tarefas rápidas enquanto está caminhando ou fazendo outra coisa.

Embora possua um bom volume de armazenamento interno, o iPhone não suporta expansão através de cartões de memória. Com isso, ao comprar um iPhone de 8 GB, você fica restrito aos 8 GB internos até trocar de aparelho. Com a queda nos preços dos cartões microSD de 8 e 16 GB, isso tem se tornado uma limitação cada vez mais evidente, já que, por mais que os cartões caiam de preço, você não poderá usá-los. Este é um erro que também tem sido cometido por outros fabricantes, como no caso da Nokia no N95 8GB, que também vem com 8 GB internos, sem suporte a expansão através de cartões.

O conteúdo da memória interna também não pode ser acessado diretamente quando o iPhone é ligado ao PC através da porta USB (como em outros aparelhos), mas apenas através do iTunes. Naturalmente, existem softwares de terceiros para ativar o uso do mass-storage, e também aplicativos como o AirSharing e o DataCase, que permitem acessar os arquivos através da rede Wi-Fi. Entretanto, seria muito mais simples se ele não viesse desativado em primeiro lugar.

Outro problema, é o sistema de distribuição adotado pela Apple, que depende fortemente de contratos e de subsídios por parte das operadoras. Todo iPhone precisa ser ativado na loja antes de poder ser usado, o que impede a venda de aparelhos desbloqueados ou sem contrato (pelo menos através dos canais oficiais).

O motivo disso é simples: muito embora o iPhone 3G seja vendido nos EUA por apenas US$ 199, os aparelhos custam na realidade algo entre US$ 500 e US$ 600. O restante é pago pela AT&T, que subsidia os aparelhos, impondo em troca um contrato de dois anos. Isso explica porque, ao chegar ao Brasil, o preço do iPhone saltou para a casa dos R$ 2.000. Na verdade, este é o preço real do aparelho, incluindo os impostos. Para pagar menos, você precisa assinar um plano com uma mensalidade elevada, que subsidie o preço inicial.

A solução para algumas destas limitações é o jailbreak, que permite que você instale diversos softwares e hacks que não estão disponíveis através dos canais oficiais. É importante salientar que o jailbreak é diferente do destravamento propriamente dito, já que ele remove apenas a limitação quanto ao uso de aplicativos não autorizados pela Apple (incluindo aplicativos para compartilhar a conexão, gravar vídeos usando a câmera, enviar mensagens MMS, ouvir rádio, etc.), sem remover o sistema de ativação nem o bloqueio da operadora.

Naturalmente, o jailbreak tem também seus problemas, já que anula a garantia, te obriga a baixar softwares por canais alternativos (tornando seu aparelho um alvo potencial para malwares incluídos nos executáveis) e viola termos da EULA. De qualquer forma, um bom lugar para se informar sobre os softwares disponíveis é o http://www.iphonehacks.com/.

Em resumo, o iPhone é um aparelho inovador em diversas áreas, mas que tem, por outro lado, uma série de limitações óbvias, introduzidas pela cultura centralizadora da Apple. Isso explica por que ele é, ao mesmo tempo, tão elogiado e tão criticado, de acordo com o público e a situação.

Os softwares de jailbreak permitem remover muitas delas, tornando o iPhone 3G uma opção mais fácil de engolir para os power-users. Entretanto, ele levanta diversas questões morais, afinal, é complicado pagar caro por um aparelho e ter que viver à margem da lei, fugindo das atualizações oficiais. É muito mais simples ir para outra plataforma, que não possua tantas limitações artificiais.

Créditos: Carlos Morimoto

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